A se trabalhar com a hipótese de que o coffee table book é um produto da “sociedade do espetáculo”, ele nasceu em consonância com a utilização de objetos cotidianos como tema de obras de arte, influenciados pela Pop Art (imagens abaixo), nas décadas de 1950 e 1960.
Andy Warhol — representante maior ou mais midiático desse movimento —, confundindo “as fronteiras da arte, da moda e da publicidade”, na avaliação do filósofo Gilles Lipovetsky, assumiu ser um “artista comercial”, e ele próprio criou os Red Books (imagem abaixo), um tipo de livro-objeto de arte que causou alvoroço nos conturbados sixties.
Em um vaivém na história, outra referência seria a de que o coffee table book remete, de modo involuntário, ao ready-made — por sinal tido como “precursor da pop art”, segundo o historiador da arte Tilman Osterwold — um “objeto manufaturado promovido à dignidade de objeto de arte por um golpe de fora simbólico do artista”, nas palavras do sociólogo Pierre Bourdieu.
No início do século XX, o artista Marcel Duchamp jogou luz sobre o já polêmico Dadaísmo quando trouxe para galerias e museus não os temas, mas propriamente “coisas” — como as pás do “Antecipação do Braço Partido”, o banquinho e a roda de “Roda da Bicicleta” e, primeira e escandalosamente, o mictório de “Fonte” (imagem abaixo) –, artefatos que, fora daqueles contextos, perderiam a aura de obra de arte.
Por essa linha de raciocínio, o objeto livro, como coffee table book, então, passa da condição de livro para a de “obra de arte”, legitimado pelo ambiente que o acolheu.
Sejam quais forem os paralelos históricos, sociais, culturais possíveis de serem traçados, é preciso dizer, no sentido de precisão, que o coffee table book, tal e qual o conhecemos hoje, faz parte da sociedade que vem transformando o cotidiano em acontecimento.
Este texto é baseado na tese de doutorado “O papel do livro de mesa na sociedade do espetáculo”, defendida por este Chico Barbosa no programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Nestes estudos, analisei os livros da editora alemã TASCHEN, daí a utilização de seus livros para ilustrar este artigo.
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