04 jul 2023

Coffee Table Book: espelho do dono

<b>Chico Barbosa</b> | Editor

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Livro de mesa pode mostrar estilo e referências culturais de quem o expõe

Os livros relacionados à arte e à fotografia, embora não tenham sido criados com tal propósito, tendem a ter maior aptidão para serem exibidos sobre a mesa. Pelas suas características estéticas e propostas temáticas, são capazes de posicionar o proprietário em termos sociais, estando relacionados com sofisticação, erudição e referências culturais.

Trata-se de um meio de o expositor se legitimar, evidenciar, anunciar à sociedade ou ao seu círculo íntimo que é detentor de conhecimento. Compostos por imagens, como fotografias, ilustrações e jogos gráficos, atraem o interlocutor de imediato e, com pouco texto, permitem uma consulta fragmentada, tal qual uma enciclopédia, uma obra de referência, produtos que envolvem pesquisa histórica em sua concepção. 

Os livros de arte surgiram muito antes de o coffee table book se estabelecer no mercado, embora não tivessem uma denominação muito clara ou homogênea. Estudos pioneiros da pesquisadora Catarina Helena Knychala revelam que o conceito de livro de arte muda conforme a época e as técnicas empregadas, mantendo em comum um único aspecto: o livro de arte é visto como objeto cultural com valores estéticos, além de símbolo cultural com valores semânticos.

De naturezas distintas, os livros de arte e os demais títulos associados ao coffee table book trazem em comum a espetacularização apoiada no capricho da apresentação e o fato de serem expostos como marca distintiva do proprietário, seja intelectualmente sofisticado, seja bem-sucedido social e/ou financeiramente. 

De acordo com o filósofo Guy Debord, a dominação econômica sobre a vida passou por uma transformação. A primeira fase acarretou, no modo de definir a realização humana, uma espécie de degradação do ser para o ter. A fase seguinte, que podemos dizer atual, é percebida como a vida social sendo tomada pelos resultados da economia, levando a um “deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo ‘ter’ efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última”. Ao mesmo tempo, conclui o intelectual, a realidade individual tornou-se social, só sendo permitido aparecer naquilo que não é. 

O coffee table book, nesse sentido, funciona como um traje a rigor.

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Este texto é baseado na tese de doutorado “O papel do livro de mesa na sociedade do espetáculo”, defendida por este Chico Barbosa no programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Nestes estudos, analisei os livros da editora alemã TASCHEN, daí a utilização de seus livros para ilustrar este artigo.

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