Se pode ser impreciso mapear a data da avant-première do coffee table book, já que os livros que se prezam pela atratividade física fazem parte da sua espécie – e se foram produzidos assim, atraentes, foram “pensados” para serem exibidos, notados, desejados –, uma possibilidade é de que tal procedimento se tenha incorporado de forma sistemática à vida contemporânea por volta dos anos 1960, quando arte, mídia e consumo se uniram explicitamente para ganhar a vida, dando forma, voz, cor e encenação à “sociedade do espetáculo” (na interpretação do filósofo Guy Debord), como a conhecemos hoje.
Foi em meados do século XX que a denominação “sociedade do espetáculo” ganhou interpretação mais sistêmica da vida social e conquistou as ruas, por extensão também a mídia, a partir justamente do lançamento do livro de Debord, em 1967, tido como precursor da análise crítica da moderna sociedade do consumo, e que funcionou como uma cartilha revolucionária dos participantes mais intelectualizados do Maio de 1968.
Em um cenário em que a mercadoria passou a ocupar toda a vida social, Debord sustenta que o modelo atual da vida dominante é composto pelo espetáculo, como informação, propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, constituindo a principal produção da sociedade atual. O intelectual comenta: “O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de ‘o que aparece é bom, o que é bom aparece’”.
Um terreno mais do que fértil para o o surgimento do coffee table book, que dialogou diretamente a arte que vinha sendo produzida. Mas esse assunto fica para o próximo post.
Este texto é baseado na tese de doutorado “O papel do livro de mesa na sociedade do espetáculo”, defendida por este Chico Barbosa no programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Nestes estudos, analisei os livros da editora alemã TASCHEN, daí a utilização de seus livros para ilustrar este artigo.
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